Mais perdido que cego em tiroteio. 

Mais perdido que Adão no dia das Mães. 

Mais perdido que cachorro em dia de mudança.

Mais perdido que filho da… bom, você entendeu.

É assim que a maioria dos pacientes que procuram atendimento terapêutico se sentem. E essa é uma das principais fontes do seu sofrimento.

Quando vemos as coisas claramente, podemos tomar as atitudes corretas: nos preparar, reagir, fazer planos de enfrentamento… No entanto (diga-me se não é assim), a pessoa em sofrimento via de regra não vê as coisas claramente. Tudo parece escuro e sem saída.

O que é esse vazio, essa coisa ruim que eu estou sentindo? O que foi, exatamente, que aconteceu comigo? Será que eu fui injustiçado nesta ou naquela situação? O que eu posso fazer? Para onde eu devo levar a minha vida? 

 Certamente você mesmo(a) já esteve nessa situação. E, então, pode confirmar: estar perdido, sem saber o que está acontecendo, apenas torna a dor muito pior.

Muito já se escreveu sobre esse tema, e não pretendo acrescentar nada de novo. No entanto, queria trazer hoje, nesta 2ª edição da Newsletter Thomaz Szechir, uma reflexão sobre o papel da comunicação terapêutica e sobre a relação entre o ofício do terapeuta e o ofício do sábio, segundo Aristóteles e Tomás de Aquino.

Leia até o final e você entenderá o que quero dizer com isso.

Santo Tomás de Aquino na Suma Contra os Gentios, citando Aristóteles, diz que o ofício do sábio é ordenar todas as coisas. Ordenar significa, também, dar nome e colocar tudo em seu devido lugar. 

E qual é o nosso ofício enquanto terapeutas senão esse? 

Compete ao terapeuta ouvir o que o paciente tem a dizer, trabalhar isso dentro de si mesmo e devolver de modo ordenado ao paciente. Ajudar a pessoa a nomear os seus sofrimentos, as suas angústias, os seus desejos.

Mas essa operação requer que façamos uso não dos nossos sentimentos, não dos nossos afetos, mas da faculdade da inteligência.  

Lembro-me de uma situação que já aconteceu comigo no consultório: o paciente, já perto do fim da sessão, disse-me que era a última vez que eu o veria, porque ele iria tirar a própria vida ainda naquele dia.

Se eu tivesse me deixado impactar pelos sentimentos, eu teria entrado em desespero naquele momento. Mas o meu trabalho é o de, justamente, conseguir apreender, por meio da inteligência, a realidade, e a partir disso fazer um juízo. 

Em vez de reagir de modo emocional, eu pude conservar a calma e entender o que estava acontecendo na situação. Resumindo… o paciente está vivo e bem. 

De certo modo, o terapeuta serve como um filtro para o paciente. Gosto muito do que dizia o dr. Juan Alfredo César Muller: o papel do terapeuta é padecer da doença do paciente, encontrar a cura e devolvê-la ao interessado. 

A pessoa que nos procura em sofrimento quer que encontremos o fio da meada de uma história que ela mesma não está encontrando. Ela precisa que encontremos um nome para o que ela mesma não consegue nomear.

A inteligência é simbolizada pela luz, porque ela é que permite que nos orientemos em meio à confusão. Essa é a luz que o paciente espera receber do terapeuta. Por isso, o seu ofício tem muito em comum com o ofício do sábio.


Notícias da semana

Na segunda-feira, tivemos um episódio do Allers Talk no Clube Allers. Eu conversei com uma das alunas, a Camila Artoni, sobre como a idade influencia no trabalho do terapeuta. 

Além disso, também tivemos uma aula bônus com o médico Dr. Matheus Bressan sobre Suplementação para terapeutas. 

Indicação da semana

“A Práxis da Psicologia e seus níveis epistemológicos segundo Santo Tomás de Aquino”, de Martin Echavarria. Não se assuste com o nome nem com o tamanho, não é um livro difícil! Nele, você aprenderá sobre a antropologia clássica e poderá se aprofundar na reçlação entre o ofício do terapeuta e o ofício do sábio.

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